quinta-feira, 16 de maio de 2013

Notícia: China obtém estatuto de observador no Árctico a pensar no degelo

      



      A rota de um navio de mercadorias entre Xangai, na China, e Hamburgo, na Alemanha, fica 5185 quilómetros mais curta, se puder viajar através do oceano Polar Árctico em vez de ir pelo canal do Suez. Este número ajuda a perceber por que é que países como a China, Índia, Japão, Coreia do Sul e Itália conseguiram nesta quarta-feira, na reunião bianual do Conselho do Árctico, o estatuto de observadores, embora fiquem longe dos gelos polares.
      Este órgão intergovernamental foi criado em 1996 e congrega oito países que rodeiam o oceano Polar Árctico e as organizações representativas dos povos indígenas. Tem por objectivo coordenar as políticas do Árctico, tanto no âmbito ambiental como económico. E, neste momento, convergem sobre o Árctico os interesses — podia até dizer-se a cobiça — de muitos dos maiores interesses económicos mundiais, quando o degelo acelerado pelo aquecimento global está a permitir chegar a riquezas até agora inacessíveis.
      As temperaturas no Verão árctico nunca estiveram tão quentes nos últimos 2000 anos. Em Agosto/Setembro de 2012, a área coberta por gelo teve uma diminuição recorde: 40% do oceano Árctico esteve sem gelo. Isto é menos 18% do que o anterior recorde de 4,12 milhões de quilómetros quadrados, registado em 2007, diz a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
      Isto é mau para o clima e mesmo para a meteorologia, o tempo que faz no dia-a-dia — o derretimento dos gelos do Árctico altera ventos e correntes, e poderá estar relacionado com o aumento da frequência de fenómenos meteorológicas extremos, como tempestades nas zonas costeiras e grandes secas, alertou a OMM. Mas é música para os ouvidos de quem quer fazer negócios.
      A China, que definitivamente partiu para o mundo em busca de recursos naturais para alimentar a sua indústria, é apontada como um novo grande jogador do Árctico.
      Pequim assinou em Abril um acordo de comércio livre com a pequena Islândia, abolindo tarifas sobre a importação de peixe. Mas terá sobretudo em vista as possibilidades de exploração de petróleo e gás — no Árctico estarão 15% e 30%, respectivamente, das reservas ainda não descobertas. No entanto, não será fácil chegar a estes hidrocarbonetos. Várias empresas petrolíferas, como a ExxonMobil, a Conoco Philips e a Royal Dutch Shell, têm planos para explorar as reservas do Árctico. Mas nos últimos meses várias delas anunciaram que suspendiam os seus planos, devido a problemas técnicos e avarias durante a perfuração.
      O Árctico é também rico em minerais, e há várias minas já em operação. A China tem interesses também nessa área: na Gronelândia, uma região autónoma da Dinamarca, há grandes depósitos minerais — ouro, diamantes, zinco, platina e ferro. Pode ainda ser o local onde há mais terras raras, usados nos telemóveis, por exemplo.
     Numa altura em que a Gronelândia dá passos para se afirmar como independente da Dinamarca, está a considerar a possibilidade de atribuir um grande contrato de exploração de mina de ferro de Isua (no valor de 2300 milhões de dólares) a uma empresa chinesa. O caso está a gerar polémica na Gronelândia e na Dinamarca.
      Os países com estatuto de observadores no Conselho do Árctico podem assistir a reuniões e financiar políticas. A União Europeia, que pediu também o estatuto de observadora, não saiu da reunião que se realizou em Kiruna, na Suécia, com uma resposta definitiva — por se opor à importação de produtos à base de foca.

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